Passado não é algo anterior ao presente num tempo linear

 

Passado não é algo anterior ao presente num tempo linear, mas passado é aquilo que percepcionamos que É passado noutro espaço-tempo ou dimensão.

Quando acedemos a memórias ou outras percepções, estamos na realidade a aceder a eventos de outras dimensões a partir do Agora… e do Aqui poderemos influenciar o que se passa nessa dimensão, porque de alguma forma escutámos os pedidos de socorro de parte do nosso Ser. Como quando nos dirigimos a Seres de Luz, a Deus ou à Inteligência Cósmica.

Agora neste estado de consciência, somos convidados a fazer o que Deus faz para connosco, somos convidados a abraçar e integrar, auxiliando e acolhendo amorosamente as partes de nós de outras dimensões que nos pedem ajuda…

Somos convidados a Ser Pai e Mãe de nós mesmos e uns dos outros.

Somos convidados a assumir o poder da co-criação.

“Como Eu fiz, fazei vós também.” – Jesus.

Recordo a primeira vez altamente impactante em que recebi este repto. Eu estava na cozinha dos meus pais, onde comecei a escutar gritos e choro. Eu já conhecia a história, tratava-se de um casal novo que vivia no andar debaixo, tinha duas filhas de cerca de 2 e 4 anos de idade, frequentemente não conseguia orientar com paciência e amor as crianças, principalmente, a mãe, acabando em discussões feias e, quem sabe, maus tratos. Quando digo frequentemente, digo no mínimo semanalmente, o normal era acontecer várias vezes por semana. E com muita probabilidade quando visitava a casa dos meus pais, eu assistia a cenas duras, mas hoje bateu os recordes de violência.

Nesse dia senti dentro de mim mesma o sofrimento e o desespero das crianças, bem como desvario da mãe. Racionalmente, os maus tratos são considerados crime público, pelo que o correto era ligar à polícia. Mas algo me paralisava e não consegui avançar na direção do telefone para fazer a denúncia, senti que algo divino em mim me impediu… A dor era tão grande que eu já estava lavada em lágrimas, e comecei a rezar pedindo a Deus e aos Anjos para ajudarem nesta situação, eles tinham o poder de trazer amor e parar aquela discussão. Algo me respondeu prontamente:

– O que precisas?

– Eu preciso que esta discussão pare, as crianças estão a sofrer demais… e a mãe também deve estar – parece desesperada, sem ter consciência do sofrimento que está a causar às crianças e a ela mesma.

– Desta vez não vou fazer nada.

– Não? Mas achas que deve continuar assim? É karma que as crianças devem aguentar e passar?

– Não.

– Então, achas melhor eu ligar à polícia?

– Não, se ligares o efeito será pior do que já está.

– Por favor, age em favor desta família.

– Não, chegou o momento de tu agires como Eu. Tu sabes o que fazer e tens esse poder.

– Eu, como assim?

– Tu sabes o que fazer e tens esse poder.

Sinto-me de novo sozinha na cozinha… ou melhor estou acompanhada por um sofrimento gigante que mal eu consigo aguentar perante o choro das crianças e os berros da mãe. Fico a pensar sobre qual seria a melhor ação a tomar, o que é que eu acho que Deus deveria fazer? Enviar energia de amor, paz, luz e discernimento, ao mesmo tempo perdoar o que foi e o que se apresenta, que a mãe possa perdoar as crianças e as crianças possam perdoar a mãe… Assim, estando toda a tremer, com as lágrimas ainda a escorrer-me pela cara abaixo, forço-me a levar a atenção para o meu peito e depois para as minhas mãos, começo a intencionar uma luz de amor e paz para o andar debaixo. Visualizo as crianças e digo-lhe que tudo vai ficar bem, visualizo a mãe e envio-lhe energia de compaixão, neste momento conecto-me com elas, e reforço mentalmente que não há culpados, nem julgamento.

– Sinto muito, perdoa-me, amo-vos e sou grata. Sinto muito, perdoa-me, amo-vos e sou grata. Sinto muito, perdoa-me, amo-vos e sou grata. – Vou repetindo, enquanto movo as mãos espontaneamente ao sabor da energia que sinto interagir nelas. Os berros daquela mãe brandam muito e o choro diminui de intensidade.

– Está tudo bem. Aceitamos o que aconteceu e libertamos todos os envolvidos, reconhecendo que podemos operar de forma mais amorosa e paciente.

Mais um pouco e o silêncio instala-se ao nosso redor, a mãe calou-se e as crianças recuperaram a estabilidade mínima para parar de chorar.

– Ai, funcionou, meu Deus. Muito obrigada, muito obrigada. – eu continuo a chorar, mas desta vez de alegria e alívio, dando graças e agradecendo a harmonia que chegou áquela casa e família.

No final, sinto que eu poderia estar no lugar daquela mãe, sem capacidade para fazer melhor, e sem saber como. Sinto que noutra dimensão, uma parte de mim, como esta mãe, se desesperou e não conseguiu fazer melhor, acolho-a, abraçando e dizendo que está tudo bem – “a partir de agora podes agir com amor. Respiras fundo e ages com amor. A criatividade trará ideias para melhor lidar com as crianças.”

Semanas depois, a cada visita percebo que não mais presenciei discussões ou choros desesperados. Pergunto à minha mãe como é que o casal e as meninas estão.

– Eles continuam a discutir?

– Por acaso, não. Eles têm estado mais calmos.

Naquele evento, a minha ação foi parar aquela discussão, mas como resultado a relação dos quatro parece ter melhorado, parece que ascenderam a outro nível de relação. Mais uma vez, dou graças a Deus e escuto:

– Foste tu.

– Tal como Tu. – respondo, sentindo que somos cada vez mais Um.

 

Autoria: Patrícia Pacheco

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